Salmos & Hinos
A Auxiliadora Cantando o de D. Sarah Poulton Kalley o 181.
Todos os presentes que cultuaram e engradeceram o nome do Senhor.
1 Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. 2 Pelo que não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se projetem para o meio dos mares; 3 ainda que as águas rujam e espumem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza. 4 Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus, o lugar santo das moradas do Altíssimo. 5 Deus está no meio dela; não será abalada; Deus a ajudará desde o raiar da alva. 6 Bramam nações, reinos se abalam; ele levanta a sua voz, e a terra se derrete. 7 O Senhor dos exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio. 8 Vinde contemplai as obras do Senhor, as desolações que tem feito na terra. 9 Ele faz cessar as guerras até os confins da terra; quebra o arco e corta a lança; queima os carros no fogo. 10 Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra. 11 O Senhor dos exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio.
Reféns da seca | |
“O Nordeste está sofrendo/ Seco sem água e sem planta/ O campina já nem canta/ O gado não está comendo/ As plantas estão morrendo/ Dá vontade de chorar”. Os versos são de Patativa do Assaré, que fez também a Triste Partida, o Boi Fubá e tantas melodias que se imortalizaram. Patativa se inspirava na dor do sertão, olhando o seu chão esturricado, vendo a sua gente perder a batalha contra a natureza.
E como ele, milhares de sertanejos de alma poética vão tirando do chão a sua poesia. A seca, aliás, pode tirar tudo do sertanejo, menos a sua veia poética. Nas terras de São José do Egito, reino encantado da poesia, a maior seca dos últimos 50 anos já arrasou tudo e levou poetas a implorar por uma gota de água com uma cuia no meio da rua.
Em Conceição das Creoulas, Ana Paula e Maria Filha, descendentes de quilombolas, sabem de cor e salteado versos de Patativa, que já se foi, do Louro do Pajeú, esfinge da viola de São José do Egito. E é neles que elas se inspiram, ganham coragem e buscam energia para resistir ao último pau de arara.
Para isso, saíram do mato e ajudadas pela Associação dos Quilombolas, que fez uma parceria com o Governo do Estado, através do programa Inclusão Produtiva, fazem cursos práticos para aprender alguma atividade, como manicure, e buscar uma renda a mais para continuarem seus estudos.
“Queremos estudar, se preparar para um dia sair daqui, ter oportunidade em outro lugar que a gente tenha emprego e veja o muito diferente, de outra forma”, diz Ana, que vive todos os anos a agonia de ouvir os lamentos do pai, de que o sol abrasador devastou tudo, até a última palha do que plantou para dar de sustento à família.
Conceição das Creoulas, onde vivem Ana e Maria, é um pedaço conflituoso do sertão. Ali, quilombola convive, mas não se mistura com índio atikum. Josilane, de uma negritude bela, vive ali a rotina de carregar água de um cacimbão fétido, para dar aos animais e usar nas necessidades domésticas.
Diferente de Ana e Maria, ela não buscou ainda um curso para aprender algo diferente e sair dali para ganhar o mundo, mas também sonha. “Sonho com a terra. A nossa luta aqui é para ter o nosso direito reconhecido, o direito à propriedade da terra, para dela tirar o sustento quanto tiver tempo bom de chuva”, diz.
O pior é que esse tempo bom nunca chega ou tarda a chegar não apenas em Conceição das Creoulas, mas em todos os rincões do semiárido, onde o gado morre, os pássaros já não cantam mais e gente sofre na pele a humilhação por uma esmola que chega num cartão magnético dos programas sociais.
Passada a segunda quinzena do mês, é tempo de agonia para Josefina de Assunção, Arnaldo Pedro e Maria de Lourdes. Agonia que tem hora para começar, mas não tem hora para acabar nas intermináveis filas do recebimento do auxílio social em São José do Egito. Ontem, eles estavam entre as centenas de famílias que chegaram ali as cinco da matina.
E só viram a cor do dinheiro do Bolsa Família, a nova roupagem das frentes de emergência, seis horas depois. O batido para quem depende de qualquer programa social do Governo é assim: penar em longas filas, que dobram o quarteirão, debaixo do sol ardente, sendo tratado feito bicho.
Para não passar por humilhação tão desgraçada, Genário Francisco da Silva, 58 anos, vive do ofício de fazer de forma bem artesanal redes de pesca no Sertão do Pajeú. Em Lagoa Funda, onde mora em terras do município de Iguaracy, vai tecendo, pacientemente, com agulha e nalho o produto do seu trabalho.
Mas a seca também atrapalhou o ganha-pão de Genário. “Com os açudes secos, os peixes morreram e não aparece ninguém mais para comprar minhas redes. Aqui mesmo, havia um açude com muito peixe, mas a gente não encontra mais nem um corró”, lamenta o talhador da pesca.
Num outro sertão conflagrado, o Moxotó, que se confunde com o do Pajeú, pela irmandade em tudo, principalmente no sofrimento, Pedro de Assis, 25 anos, carrega sacas de farelo de soja na cabeça para ganhar R$ 25. Ele mora em Sertânia, terra de caprinos e ovinos, animais mais resistentes às intempéries do sol.
“Dou um duro desgraçado. Nesse sol quente, a sensação é de que a cabeça vai partir ao meio quando chego em casa”, diz, referindo-se as mais de 50 sacas que carregou ontem num descarregamento de farelo para abastecer uma fazenda de gado de corte em Sertânia. Mas Pedro não tem saída.
Diz que, antigamente, os bicos que apareciam eram menos brutais. “A seca escraviza. Quando chove, a gente também sofre na roça, mas é um sofrimento menos sofrido”, desabafa, rangendo os dentes pelo peso do saco de farelo sobre a cabeça.
José Rodrigues Sobrinho, o Zezinho, 58 anos, foi vaqueiro afamado no Sertão do Moxotó. Aprendeu cedo a derrubar o boi na caatinga fechada, a amansar cavalo cismado. Ganhou prêmios em todas as pelejas de gado que disputou não só em Pernambuco, mas em outros Estados, como a Bahia, Ceará, Maranhão e até Minas Gerais.
Zezinho nunca rejeitou desafios em vaquejadas e por isso ganhou fama e respeito durante o seu reinado de maior vaqueiro do Moxotó. Mas como o tempo passa para todo mundo, para o experiente derrubador de gado brabo também passou e hoje vive apenas de recordações daquele tempo bom.
“Eu vivia pelo mundo participando de competições como todo vaqueiro que se preza”, diz. Hoje, Zezinho monta num cavalo diferente, que não tem quatro patas, mas duas rodas e que virou em terras euclidianas a versão moderna do “jumento do sertão”. São as motos. “Troquei o gibão pelo capacete”, brinca.
Zezinho é servidor público, funcionário da Adagro numa fazenda de criação do Governo do Estado em Sertânia, cujo reservatório, que num passado distante era um mar de água, está, hoje, com o agravamento da seca, com apenas 30% das suas reservas.
“Quem, como eu, viu esse açude nos velhos tempos botar água de canto a canto e hoje estar nessa situação dá uma dor profunda no coração, uma amargura. Mas o que se pode fazer? É a seca, a maior, aliás, que já vi em toda minha vida”, diz o ex-vaqueiro e agora motoqueiro dos sertões.fonte blog do Magno. | |
Escrito por Magno Martins, às 07h52 |
Reféns da seca XVI | |
Seca grande o povo sertanejo sente quando o chão racha de repente e não há como juntar os pedaços novamente. É também quando fica seco até um pedaço de chão que antes era um rio, um barreiro ou um açude e quando se olha até onde a vista alcança e o que se vê é o sol, fustigando feito lança.
É
quando não tem sapo coaxando, quando os grilos não fazem serenata,
quando as plantas não brotam, quando o agricultor deixa de acordar
cedinho com a enxada nas costas. É quando mandacaru vira comida de gado,
o milho e o feijão somem da mesa e o que resta apenas é um pedaço de
rapadura para enganar a barriga.
“Não
sei ler nem escrever, minha vida é lida na roça, meu lápis é uma
enxada, desde novinho fui roceiro e cá estou sobrevivendo a mais uma
tragédia”, diz, com jeito de poeta, o agricultor Damião Silva, 52 anos,
caminhante do Sertão de vidas secas. Mas não um caminhante solitário.
No
chão batido de Verdejante, município encravado entre Salgueiro,
santuário das secas, e Serra Talhada, terra de Virgulino Ferreira, o
Lampião, Damião, que se aposentou aos 40 anos por invalidez – perdeu uma
das mãos num acidente com um facão – vai escapando da maior seca dos
últimos 50 anos no Sertão porque é forte, como todo sertanejo.
Ontem,
ao entardecer, ele foi encontrado levando toda a prole – a mulher e
quatro filhos – numa carroça de burro com três cães vira-latas. “A seca
queimou 10 hectares que plantei de milho e feijão, só me restou este
burrinho e umas galinhas no quintal, mas a gente vai sair dessa porque
Deus é grande e poderoso”, diz.
“No
sertão, quem é rico ainda de jumento, quem é pobre anda a pé”,
cantarolou Luiz Gonzaga, imortalizando a miséria de terras secas. Cem
anos depois de Vidas Secas, onde brinquedo de gente pequena era osso de
boi, Joyce, de nove anos, encontra no lixo tampinhas de garrafas de
plástico e transforma em realidade o brinquedo que viu na loja, mas os
pais não tiveram dinheiro para comprar.
Carinha
de anjo, meiga e inteligente, Joyce mora num distrito de nome charmoso,
de gente fidalga: Montevidéu, que não é a capital do Uruguai, mas uma
pequena vila, de duas ruas, uma delas já quase no Ceará, porque se
confunde com a cidade de Penaforte, pertencente ao Estado vizinho.
Seu
lápis não é a enxada, como disse Damião de Verdejante. Encontrou o
caminho das letras e do futuro numa escolinha ali bem perto, aonde vai a
pé e faz planos para um futuro promissor, distante das plagas onde
vive, onde a seca matou a esperança de toda a sua gente. “Gosto de
estudar e sonho em ser gente na vida”, reage, mostrando firmeza e
esperança.
Deixamos
para trás a nova geração sertaneja simbolizada por Joyce e penetramos
no mundo do passado, de gente que já viveu muito em terras euclidianas,
que tem muitas estórias para contar, que nos tempos de hoje resta apenas
o consolo de passar a experiência para os que estão despertando para a
vida.
É
o caso do quase centenário Raimundo Wenceslau da Silva, que chegou
inteirão aos 95 anos na emblemática Conceição das Creoulas, metade
quilombola, metade terra de índio atikum, em Salgueiro. Metade porque a
comunidade é dividida entre negros e índios, que não se entendem, vivem
em permanente conflito.
Conflitos
que vão pela posse da terra até mesmo ao direito de receber uma cesta
básica enviada por almas generosas para matar a fome de muita gente por
lá. “Seu” Raimundo é índio atikum, trabalhou na roça a vida inteira, tem
sete filhos e muita estória que não saem da sua memória ainda
privilegiada.
“Já
ouvi por ai gente dizendo que esta seca está sendo maior do que a de
1932, mas não pode ser comparada não, meu senhor. Vivi a de 32 e estou
vivendo esta. A de 32, o povo morreu de verdade, de fome e abandono.
Agora, não estou vendo o povo morrer. Tou vendo, sim, o gado não
escapar, por falta de capim e água também”, desabafou.
“Seu”
Raimundo também não tolera as provocações dos quilombolas que em
Conceição das Creoulas ganharam o direito do acesso a terra. “Essas
terras aqui foram habitadas desde a sua origem por nós, índios.
Inventaram esse negócio de quilombola para tirar os nossos direitos e
roubar as nossas terras”, diz.
Avanir
Maria da Silva, índia atikum de Conceição das Creoulas, cansou de ser
explorada pelos quilombolas em Conceição das Creoulas e deixou a roça
para tentar a vida de manicure. E para isso está fazendo um curso na
Associação dos Quilombolas. Lá, numa parceria com o Governo do Estado, a
entidade oferece um curso por três meses.
“Vou
tentar mudar de vida”, afirma, referindo-se à profissão de manicure.
Nascida na aldeia Garrote, Avanir mora na cidade desde 1981, mas nunca
se conformou com o tratamento dado pelo Governo aos índios, segundo ela
bem diferente do que é dado aos quilombolas. “Nós, índios, sofremos uma
tremenda discriminação. Aqui, só se olha para os negros”, observa.
O
Governo que discrimina os índios em Conceição das Creoulas é o mesmo
que levou o pecuarista Manoel Ferreira de Oliveira, aos 78 anos, a uma
depressão que parece sem fim. Tudo porque as obras da Transposição
passaram por cima da sua fazenda, destruíram o açude que abastecia a
cidade e o seu rebanho, e o DNOCS não pagou a indenização.
Manoel,
que viveu 75 anos na roça, tinha 50 cabeças de bovinos, cabras, ovelhas
e cavalos de raça. Deitado numa rede, onde mata o tempo, vai fluindo a
sua dor. “Tem hora que dá vontade de tocar fogo em tudo que restou, de
tristeza, de desgosto e depois morrer”, revela.
Com
os seis filhos, o velho pecuarista se transferiu da fazenda para uma
casa em Penaforte, no Ceará, e da sua rede diz que agora só sai para a
eternidade. “Não tenho mais força para viver, vou levar o resto da vida
aqui nessa rede velha”, afirmou.
Bem
distante de Montevidéu, a família do garoto Manoel Francisco Silva
Neto, o “Netinho”, de sete anos, enfrenta as agruras da justiça todos os
dias, porque ocupa uma área de invasão no projeto de irrigação
Bebedouro, em Petrolina. O pai, a mãe e mais sete irmãos já chegaram na
invasão Mundo Novo, como batizaram, expulsos de outra área ordenada pelo
MST.
Netinho
está fora da escola, não sabe ler, não tem brinquedos para se divertir
com os irmãos. Seu único entretenimento nos últimos dias tem sido cuidar
de um cabrito, seu xodó, a quem dá carinho e atenção durante todo o
tempo que Deus dá. “Ele é meu companheiro, cuido como se fosse um
irmão”, confessa.
Como
todo garoto pobre do Sertão, Netinho tem os pés no chão e vergonha de
só comer feijão, quando tem. É riso tímido, porque fala errado, mas faz
pirraça porque é um menino comol qualquer um da sua idade, que brota
poesia cantada. Netinho é castigo no sertão, mas quem sabe um dia não
será lição se escapar da morte severina. |
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Escrito por Magno Martins, às 08h15 |
O fim do mundo | |
CARLOS CHAGAS Que tal se o Congresso aprovasse a reforma política? E se o Supremo Tribunal Federal encerrasse o julgamento do mensalão? Por que a presidente Dilma não se diz logo candidata à reeleição e não reforma o ministério? Não seria hora de o PSDB entregar seu comando ao senador Aécio Neves? Agora que as chuvas chegaram, melhor seria reorganizar a agricultura, ao tempo em que todas as secretarias de Segurança e as delegacias de polícia deveriam empreender um mutirão de combate à bandidagem. Talvez a mobilização das Forças Armadas e da Polícia Federal para cortar em nossas fronteiras o contrabando de armas e da entrada de tóxicos. Se o mundo for mesmo acabar, é bom que acabe sem mazelas... |
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Escrito por Magno Martins, às 02h40 |